sábado, 1 de fevereiro de 2014

"O LOBO DE WALL STREET"



Indicado na categoria comédia na 71ª edição do Globo de Ouro da Hollywood Foreign Press Association, isto pode surpreender a quem não assistiu ao novo filme de Martin Scorsese, “O Lobo de Wall Street”(The Wolf of Wall Street, EUA, 2013). Mas o roteiro de Terence Winter com base no livro autobiográfico do ex-corretor da bolsa de valores de Nova York Jordan Belford, segue como uma farsa desde as primeiras cenas. Quando, por exemplo, o personagem que sempre está narrando em off diz que tem um carro branco, surge primeiro um vermelho, que rapidamente muda de cor. Este recurso tende a indicar que muito do que será visto não é real, ou não indica um caminho que denota veracidade. As aventuras de um jovem ambicioso, mas sem dinheiro que consegue emprego em Wall Street e se torna um ótimo vendedor de ações, ganha a feição de uma orgia a partir do que Tom Wolfe chamou de “Mestres do Universo”. O mundo do dinheiro seduz Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) desde que chega ao pregão da bolsa mais respeitada do mundo. Conhecendo um veterano vendedor (curta aparição, mas extremamente expressivo, de Mathew McConaughey) aprende como se deve portar na profissão. O problema é que a época é a década de 80 quando uma depressão semelhante a de 1929 atinge o mercado. E o calouro aprendiz tem que mudar. Arranja emprego em uma agencia particular em Long Island e passa a vender muitas ações de firmas modestas, algumas formadas por parentes ou amigos de forma artesanal. Inicia uma empresa concorrente a Wall Street associado a Donnie (Jonah Hill) e a outros velhos amigos criando a Stratton Oakmont com muitos empregados e valendo-se de artimanhas ilegais. Casado há tempos, se divorcia quando encontra a sedutora Naomi (Margot Robie). A esta altura já é um bilionário esbanjador mostrando a cor do dinheiro nos vários bens que adquire. O cenário do escritório criado por Martin Scorcese é de uma fantástica fábrica de dinheiro e onde circulam strippers, bichos dançando ao som de fanfarras, mesclado de corpos nus nas poses mais sensuais possíveis criando-se cenas de bacanais que parecem não acabar nunca. Essas figuras que a cada bilhão ganho festejam as vitórias ao som de charangas parecem emblemáticas naquele local de negócios. Mas o que subjaz é a crítica à fugacidade daquele mundo marcado de mentiras, embora a realidade do dinheiro em cédulas figure nas caixas abarrotadas que não têm mais lugar aonde guardar. É o formato especulativo de uma Wall Street com toda a vulnerabilidade mantida em tom de comédia testando a cada momento os limites da realidade daquele grupo que não tem descanso, mantido ao som do tilintar da campainha dos telefones para negociar e ou captar ações aos gritos e bordões aprendidos de seu “mestre” e que já se tornam parte de seu cotidiano. E/ou pelo filtro das drogas estimulantes que passam a gerir aquele mundo que criou. Um Deus como Belfort tem que ser seguido e imitado – como mostra Scorcese em cada momento em que a turba burocrática consegue ganhos do mercado e/ ou novos compradores sejam incluidos nos negócios. Das gravatas e smokings ao corpo nu naquele cenário ficcionado supostamente ficticio, mas necessitando ser visto como verossimil, tudo demonstra a força do dinheiro extraido de pequenos investidores que sequer sabem o que estão representando no ganhar/esbajar fortunas. A avidez é a arma que manipula o caráter daqueles homens que deixam de viver a vida do cotidiano (nem sabem por onde andam suas esposas e filhos ou se têm familia) para se tornarem adeptos de uma nova divindade – o dinheiro que entra em suas contas bancárias e/ou que se derrama sobre eles (há cenas que repercutem esse sentido). A linguagem que Scorsese usa tem uma dinâmica assutadora. Enfatiza a eterna festa das figuras ligadas ao mundo ilícito de negócios, usando de todos os recursos para dimensionar a devassidão ambiente. É assim que se vê sequencias de tonalidades fortes (mais o vermelho), de planos próximos em montagem rápida, de tipos que ilustram a orgia, como prostitutas que servem aos corretores muitas vezes dentro do salão onde trabalham. O filme é longo (3 horas), mas não gratuitamente. A ação é constante e seria impossível manter o clima sem o desempenho de Leonardo DiCaprio, presente em quase todos os planos. O ator nunca esteve melhor. Produz um esforço enorme no papel-titulo, ou seja, no de Jordan cognominado “O Lobo”. Candidato a 5 Oscar (filme, diretor, ator, ator coadjuvante e roteiro adaptado) tem sua qualificação para tal premiação. Merece. Mas DiCaprio tem concorrentes sérios nesse evento, como Mathew McConaughey (em “Clube de Compra Dallas”) que merecia figurar como coadjuvante neste trabalho de Scorsese. (Luzia Álvares)

domingo, 29 de junho de 2008

WALL-E:DEPOIS DO FIM DOS TEMPOS

A “verdade inconveniente” do ex-presidente norte-americano Al Gore, diz que a Terra está fadada a ser um mundo morto. Gore não gera “mau agouro”, apenas promove a sua pessoa, não sei se inadvertidamente, seguindo cientistas que temem por sérios desvios ecológicos.
O “fim do mundo” volta ao cinema depois de ter sido o prato principal do meu da guerra-fria, e, antes dela, das primeiras explosões atômicas. Se o tema serviu de forma livre, mais como muleta de uma criação que envolve a alma humana (para não dizer a mente), como em “O Fim dos Tempos”, o “acontecimento’(happening) de M. Night Shyamalan, agora serve a um poema desenhado, ao surpreendente “WALL-E” de Andrew Stanton e a turma da PIXAR, companhia que inaugurou a animação tridimensional e hoje é quem faz a festa na casa do Mickey Mouse(a Walt Disney Productions).
Segundo Stanton, em 2700 a Terra virou um lixeiro. Não se pode dizer que o mar não ficou para peixe, pois simplesmente deixou de existir. Os navios estão apodrecendo no seco. As grandes cidades acumulam detritos que são limpos, na medida do possível por uma raça de robôs. Enquanto isso, o gênero humano, ou o que sobrou dele (vê-se que a maioria foi para o brejo) passou a viver numa estação espacial imensa, onde tudo é automático, de tal forma que não se precisa nem andar atrás das coisas( as pessoas movem-se em carrinhos que as levam pelos diversos corredores e as “despejam” na pérgula de uma piscina onde a moda é ficar boiando (nem pensar em nadar). Este mundo novo é comandado por máquinas. E as máquinas são supervisionadas por outras máquinas. O comandante humano é um senhor obeso que vive comendo e já desaprendeu a mover as pernas. Por outro lado, periodicamente esses moradores do espaço mandam sondas à Terra para ver se o cenário mudou. E uma dessas sondas vai encontrar o Wall-E do titulo, robô que sobrou dos tantos garis deixados a fazer pirâmides de latas amassadas.
É desnecessário dizer que o filme esbanja técnica. O pessoal da PIXAR criou o desenho animado de longa-metragem tridimensional com “Toy Story”. Hoje é dono da bola. Mas o que vale exaltar é que essa turma não pára de criar, de inventar histórias, de produzir animação que não seja apenas pandas que lutam caratê.
“WALL-E” é um poema. Numa hora em que tocam “La Vie em Rose” a emoção vai às lágrimas. E quando se ouve “Assim Falou Zarastruta” sente-se a homenagem ao filme maior da sci-fi, “2001, Uma Odisséia no Espaço”. Aqui, os computadores maus apanham dos computadores bons. Não se desmerece a conquistas tecnológica em nome de política correta, seja ecológica seja novelesca. O que se quer dizer é que os homens podem estar no céu (e estão), mas sentem uma profunda nostalgia da Terra e não se furtam à uma viagem de volta quando sabem que do lixão nasceu uma planta.
O filme também é um romance. O pequeno Wall-E parece se apaixonar pela sonda que o visita. Há uma seqüência em que ele está virtualmente quebrado e ela vai à velha oficina de sua raça atrás de peças para reconstituí-lo. Feito o serviço, há um interregno de desmemoria para uma recuperação pelo toque (máquina com máquina).De comover!
Há inspiração de “Daqui a Cem Anos” (Things to Come/;1936) de H. G., Wells e William Cameron Menzies, de A Ùltima Esperança da Terra”(The Omega Man), história de Richard Matheson refilmada como “Eu Sou a Lenda”,e, como eu mencionei, de “2001”. Esses filmes ajudam um roteiro muito bom, com um final que emenda no primeiro plano (a Terra devastada vista do alto a simular uma foto de Marte feita agora por uma sonda) com o mesmo tipo de plano seguido de um travelling por sobre o que começa a florescer. Não tenham duvida que é outro gol da PIXAR. E penso que desta vez foi gol de placa, coisa que vai ficar na memória da cinematografia mundial. Não só de “cartoon”: é cinema-criação, aquilo que faz a gente gostar tanto dessa arte. (Pedro Veriano).

sábado, 28 de junho de 2008

A travessia de Shyamalan

Adolfo Gomes
É do cinema tornar visível as coisas, os seres. Até mesmo quando não é possível mostrar mais do que rastros, vestígios dessa ausência, é preciso encontrar um corpo, um módulo ou um formato de expressão. “Fim dos Tempos” (The Happening), do cineasta de origem indiana M. Night Shyalaman, é parte desse desafio do cinema em lidar com o invisível. E Shyalaman o enfrenta com a mesma fé com que Moisés separou o mar vermelho para sua travessia.Trata-se de acreditar nas imagens, o que nos dias de hoje equivale a reescrever as leis, voltar ao “antigo testamento” do cinema, segundo o qual reza um mandamento inaugural: filmar a natureza e os objetos como iguais.
Mais do que índice de presença ou até mesmo signo, é por meio deles que se opera a arte, o milagre de se modular o que não tem forma definida. O vento, por exemplo, que inspirou o clássico de Victor Sjöstrom, tinha a areia lancinante sobre o corpo de Lilian Gish, casas e estradas para lhe atestar uma existência cinematográfica.
No filme de Shyalaman, o vento tem um papel importante. Parece ser o centro gravitacional de sua poética, quer pelo que evoca de belo como de assustador. Mas a travessia a que ele empreende não seria segura, não fosse pelo anel, a planta de plástico, o prendedor de cabelo, o cortador de grama e os outros incontáveis objetos que lhe indicam o caminho.É mais do que uma ontologia dos objetos, porque para além das suas respectivas naturezas e finalidades cada um deles agrega novas possibilidades, funções, cadeias de ações e sentidos.
Na notável cena entre Mark Wahlberg e a jovem Ashlyn Sanchez (Jess), logo após a menina mergulhar na apreensão da perda definitiva dos pais, há o anel do protagonista, cuja pedra que o enfeita acredita-se capaz de expressar os sentimentos, mas que aqui, antes de diagnosticar, produz um estado de espírito. O professor de ciência (Wahlberg) arranca um sorriso à criança em meio ao terror, pura e exclusivamente graças a esse apetrecho. Estamos no domínio da metáfora e o que é mais belo: ela ainda é possível no cinema.
“Fim dos tempos” se inscreve na tradição dos filmes tácteis de Hollywood, de “Desejo Humano”, de Lang; à “Cinzas que queimam”, de Nicholas Ray; nos quais tudo em cena evoca a presença, a trilha, o afeto humano, sem necessariamente enquadrar homens, mulheres, crianças na perspectiva da câmera. O fora de campo, é consciência da arte, aqui como acolá - quer dizer: naqueles tempos.
Pois se a destruição imposta pelo homem à natureza e vice-versa, no caso do happening do filme, é mais do que visível, aquilo capaz de interromper esse processo aparentemente irreversível transcorre nessa fronteira entre a fé e o inexplicável.
Ainda assim, Shyalaman nós dá evidências: um campo entre duas casas, o vento soprando, um homem e uma mulher que já não têm dúvidas sobre o amor que sentem. Esse encontro pôs fim à destruição, à ameaça (in)visível?
Não cabem respostas fechadas... Como dizia Jean Cocteau, "não existe o amor, só existem provas do amor". E Shyalaman parece concordar com essa assertiva.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

SEJA BEM VINDO

A ACCPA espera que todos os seus associados colaborem com este blog enviando os seus comentários sobre filmes ou o que mais desejem tratar em torno do cinema. Espera também que os leitores se manifestem. É um velho sonho da associação, desde que se chamava APCC, para reunir quem gosta de cinema, não se limitando aos encontros de fim de ano.
Pedro Veriano